” (…) Movo-me pelo entusiasmo da descoberta, do descortinar do mistério.”
| BIO |
Aos 21 anos, depois de ter estudado Engenharia Aeroespacial e Medicina Veterinária, decidiu que era tempo de se dedicar ao que verdadeiramente o apaixonava: Contar histórias através de imagens.
Apesar de nascido na era do analógico, aos 10 anos, Vasco já sonhava com o digital. Esvaziou o mealheiro e comprou a sua primeira câmara. Com ela, filmou os seus primeiros filmes caseiros, documentou viagens, e retratou a sua vida ao detalhe, desde o irmão mais novo, aos objetos perdidos e abandonados a um canto no quintal das traseiras.
Aos 17 anos investiu numa câmara profissional e, depois de perceber que a obsessão se mantinha, soube que não havia volta a dar: Era a explorar a arte do visual que queria de dedicar a vida.
Começou a estudar Cinema, filmou vários filmes e documentários, tendo o Mundo como cenário, recebeu vários prémios com todo o mérito, e até chegou a dar aulas em universidades portuguesas.
Agora, trabalha como fotógrafo e realizador freelancer, e está sempre à espreita do próximo desafio, que se atravesse na sua lente.
Senhoras e Senhores, convosco: Vasco Reis Ruivo!
| QUEM ÉS TU? |
O Vasco é a pessoa que não sabe responder muito bem a esta pergunta… Vou tentar o melhor que posso.
Diria que sou um aluado, numa procura constante de encontrar, em tudo e em todos, o que acho que não encontro em mim, para poder incorporar um pouco disso tudo naquilo que sou.
Movo-me pelo entusiasmo da descoberta, do descortinar do mistério, bem como, da possibilidade de redescoberta daquilo e daqueles que sempre me fizeram bem. Vou oscilando entre a neurose quotidiana e a hiperactividade produtiva e exploradora.
Demasiado pseudo? Factos mais palpáveis e concretos: sou realizador, músico e fotógrafo. Sou apaixonado por culturas diferentes, por comida exótica, pela natureza, por guitarras eléctricas e objectivas antigas.
Já viajei por mais de 30 países, e ainda sinto que me falta ver e conhecer muito mais do que aquilo que é possível no período de uma vida.
Sou péssimo a expressar emoções. Adoro Natais em família e jantares prolongados com amigos. Gosto de diversidade e de me dar bem com pessoas diferentes entre si, ao ponto da quase incompatibilidade, e tenho inclusivamente muito gosto em travar boas amizades com pessoas no lado oposto do espectro político, for the sake of good conversations. Já tentei estudar muitas coisas diferentes.
| QUEM É O TEU GANG? |
O meu gang começa com quatro crianças com menos de 5 anos, que se conhecem a jogar futebol e a apanhar lagartixas.
Hoje em dia, a caminho dos trinta, estamos mais numa onda de grandes jantaradas com bom vinho e fins-de-semana sabáticos no Alentejo. Eles cozinham todos muito, e muito bem; é um luxo. Suspeito que é por isso que sou amigo deles, e, também, pelo facto de conhecerem demasiado bem todas as minhas falhas (para além do facto de saber cozinhar pouco mais que torradas).
Ao longo dos anos fui juntando ao meu gang, um conjunto de pessoas que considero incríveis. São os que continuam a ligar-me depois de não atender chamadas durantes meses, os que me forçam a sair da neurose para ir para os copos, os que fazem música comigo e os que alinham nas viagens insanas. Conto-os com os dedos das mãos, mas não sinto que precise de mais.
| DE QUE MATÉRIA É FEITO? |
De um cocktail de loucura e sensibilidade.
| ÉS PÉ DESCALÇO OU PÉ CALÇADO? |
Pé descalço sempre que posso, pé calçado só quando tem de ser: é difícil atravessar grandes cidades ou trilhos na montanha descalço.
| O QUE TE FAZ TREMER DOS PÉS À CABEÇA? |
De prazer ou de medo? De prazer: começar a delinear planos concretos para a próxima viagem.
De medo: o esquecimento. A ideia de ser dominado por ele sem que me aperceba. Não me refiro à falta de memória, à distração ou ao esquecimento de dados concretos (embora essa ideia seja preocupante).
Assusta-me sim a ideia de poder esquecer-me daquilo que é importante para mim: esquecer-me das minhas prioridades, perder-me em qualquer coisa que me distraia daquilo que é importante para mim; de quem me faz falta.
É um perigo que está sempre à espreita, e há muitas forças de origem variada que podem levar a este ponto.
| O QUE TE FAZ SALTAR A PES JUNTOS? |
Propostas para uma nova viagem. Propostas para um novo filme com liberdade criativa. Uma guitarra pronta a ser tocada. Uma fotografia escondida à espera de ser tirada.
| QUAL FOI O CHÃO MAIS ESPECIAL QUE JÁ PISASTE? |
Esta pergunta fez-me revisitar mentalmente, tantos sítios surreais, mágicos e especiais… Mas vou responder com base numa experiência relativamente recente que tive, e que ainda tenho muito presente: as ilhas Lofoten.
As Lofoten são um arquipélago norueguês no Ártico. Tive a sorte de lá ir há pouco menos de um ano. A primeira vez que fui à Noruega, devia ter cerca de 8 anos, fui com a minha família. Fiquei obcecado pelos fjords!
Aos 17 anos, quando estava a planear o meu primeiro Interrail com um grande amigo de infância, descobri estas ilhas e fiquei maluco. Ainda tentámos que fizesse parte do plano, mas era muito difícil. Deu para subir até à Suécia, mas chegar ao Ártico ia levar demasiado tempo e dinheiro.
Num segundo Interrail fiz questão de ir pelo menos até aos fjords. O meu primo, que estava a fazer Erasmus em Bergen, alojou-me e tive uma óptima experiência naquele país de trolls e paisagens inacreditáveis.
Mas a obsessão por aquelas ilhas remotas continuava. Só no terceiro Interrail é que consegui lá chegar! Começámos logo pela Noruega, e subimos em comboios durante horas e horas a fio até uma terra de onde partiam barcos para as Lofoten. É difícil pôr por palavras a sensação que é aproximares-te de uma coisa tão imponente, tão exagerada, tão fora deste mundo!
Chegámos já ao fim do dia, estava a chover, e não conhecíamos a zona. Encontramos um espaço relativamente liso no topo de um monte e lá montámos, com dificuldade, a tenda de vinte e poucos euros da Sport Zone. Os ventos fortíssimos dobravam-na para dentro com força, levávamos autênticas chapadas na cara da tenda que parecia ceder, e voar a qualquer instante connosco lá dentro, mesmo com as pedras gigantes que lhe reforçavam a estabilidade. Não aconteceu.
De manhã, com bom tempo, procurámos um novo spot e acabámos por ficar junto a um lago. Incomparavelmente mais sereno. E foi aí que vi a minha primeira aurora boreal. É uma sensação que roça o indescritível. Rapidamente as nuvens voltaram para a tapar, mas não conseguiram impedir uns bons minutos de contemplação e êxtase absoluto.
| ONDE SONHAS METER O PÉ? |
Se ainda tiver direito a falar de mais obsessões, aqui fica mais uma: a América do Sul.
Há anos que sonho em explorá-la com tempo. Quando era criança viajei em família à Guatemala, às Honduras e ao México. Essas viagens marcaram-me. Ficou um fascínio pelas civilizações Maia e Asteca, e daí nasceu uma curiosidade muito grande em relação à civilização Inca. A obsessão deve ter começado assim, em puto.
Depois a curiosidade estendeu-se a outros aspetos do Continente, a zonas diferentes, às pessoas, à gastronomia, etc. Hei de lá ir.
Agora estou focado na minha próxima viagem: Nepal e Índia. Já estive duas vezes na Índia e ficam sempre saudades e vontade de lá voltar.
Às vezes, há cheiros que me transportam diretamente para lá, é impressionante, bate logo um sentimento nostálgico. Vai ser muito bom poder fazê-lo agora. Vou a sítios novos que me parecem brutais. E o Nepal vai ser uma aventura, nunca lá estive antes, mas as expectativas são muito altas.
| QUAL FOI O TEU MAIOR PASSO? |
Uma mudança radical no rumo da minha vida.
Comecei por estudar Engenharia Aeroespacial e Medicina Veterinária. Tinha o mindset preso nas ciências…
Foi ennquanto viajava acompanhado da minha câmara, que percebi que, o que realmente me dava gozo, era filmar, bem como todo o processo de aprender sobre o assunto.
Foi um passo grande, cortar com aquilo que julgava ser o meu futuro, e de alguma maneira parte da minha identidade, para deixa florescer um outro lado, ao qual não andava a dar a devida atenção.
Foi, provavelmente, a melhor decisão que já tomei.
| QUE SONHOS TE TIRAM OS PÉS DO CHÃO ? |
O de poder continuar a criar qualquer coisa nova, tanto com os meios que já conheço como com meios novos e diferentes.
E o de conhecer mais e melhor, o que está para lá de mim, outros sítios, outras culturas, outras pessoas, bem como aquilo que ainda não conheço no que acho que já descobri.
| QUAL É A TUA PEGADA? |
Talvez fosse mais justo perguntar isto às pessoas com quem me vou cruzando. Tento deixar, em todos os sítios por onde passo, um espaço de abertura e aceitação, que permite as diferenças e as encara com humor e liberdade.
É isso que espero que fique presente, que deixe uma pegada contagiosa.
| PARA ONDE É QUE CAMINHAS? |
Para onde a minha vontade me levar. Não posso dar uma resposta consistente a esta pergunta, amanhã pode mudar.
| O QUE LEVAS NA MALA? |
A resposta sincera e desinteressante? A minha câmara, várias objectivas mal arrumadas, um livro, um caderno em branco que só vai ver as palavras “Caderno de Vasco Reis Ruivo”, várias baterias de câmara pré-carregadas, uma Power Bank muito pesada com capacidade para 6 ou 7 cargas mas só com uma carga, e um frasquinho de gel desinfectante.
| O QUE TRAZES DE REGRESSO? |
Dezenas de bilhetes de comboio e metro ou de museus, todos mal arrumados, muito amarrotados e misturados com moedas locais e objetos que me foram oferecidos ou que encontrei. Coisas sem valor nenhum, mas que por algum motivo me fascinam. Guardo tudo isso, quando finalmente me dou ao trabalho de desfazer as malas, e consigo reviver alguns momentos bons das viagens.
Às vezes vêm livros. Não vou esconder isto: também gosto de encontrar lojas de roupa em segunda mão, é o metrossexual reprimido que há em mim, que aproveita as viagens para emergir por umas horas. Há muitas muito fixes espalhadas por essa Europa fora ou nos Estados Unidos. Raramente vou a Bruxelas sem trazer camisas flanela de uma loja de roupa usada a peso.
E vêm cartões de memória ou discos externos, cheios de fotos e filmes e, por vezes, tubinhos de rolos de 35mm cheios de negativos por revelar.
Ver mais em: https://www.vascoreisruivo.com/