| BIO |

Afonso Reis Cabral nasceu em 1990. Aos quinze anos publicou o livro de poesia Condensação. É licenciado em Estudos Portugueses e Lusófonos, fez mestrado na mesma área e tem uma pós-graduação em Escrita de Ficção. Foi duas vezes à Alemanha de camião TIR em busca de uma história, a primeira das quais aos treze anos. Trabalhou numa vacaria, num escritório de turismo e num alfarrabista.

Em 2014, ganhou o Prémio LeYa com o romance O Meu Irmão, que se encontra em tradução em Espanha e já foi publicado no Brasil e em Itália. Tem contribuído com dezenas de textos para as mais variadas publicações.

Em 2017, foi-lhe atribuído o Prémio Europa David Mourão-Ferreira na categoria de Promessa, e em 2018 o Prémio Novos na categoria de Literatura.

No final de 2018, publicou o seu segundo romance, Pão de Açúcar, com forte acolhimento por parte da crítica. Entre Abril e Maio de 2019, percorreu Portugal a pé ao longo dos 738,5 quilómetros da Estrada Nacional 2, tendo registado essa viagem no livro Leva-me Contigo

Trabalha actualmente como editor freelancer. Nos tempos livres, dedica-se à ornitologia, faz Scuba Diving e pratica boxe.

” Ando a saltar a pés juntos pela escrita desde os 9 anos. Quando for velho continuarei (…) com a ajuda de uma bengala.

| QUEM ÉS TU? |

Alguém incapaz de responder a essa pergunta, para começar. É que não há honestidade possível numa resposta em que me exponha desse modo. Por um lado, não posso falar dos meus defeitos, por outro, não devo falar das minhas qualidades. O que resta, se tirarmos o que vai entre o defeito e a qualidade? Mas enfim, entre outras coisas, sou alguém que tenta escrever. E que tenta proceder bem.

| DE QUE MATÉRIA ÉS FEITO? |

De carne viva com um bocadinho de pele por cima. A pele é a educação, a carne viva tudo o que esta controla.

| QUEM É O TEU GANG? |

Tenho um gangue espalhado pelas estantes. Todos os livros que li estão em sentido para me ajudar. E tem acontecido muitas vezes: a leitura dá-nos experiência de vida muito para além das nossas circunstâncias. Ler não é bem viajar, é mais ser outras pessoas durante algumas páginas. Mas o meu verdadeiro gangue é aquele muito óbvio: família, namorada, amigos.

| ES PÉ DESCALÇO OU PÉ CALÇADO? |

Descalço para pequenas distâncias, calçado para mais de cem quilómetros seguidos. Tento adaptar-me às circunstâncias. Talvez a pergunta pressuponha a maior ligação com o imediatismo, a aventura, o improviso (no pé descalço) e a prudência, planeamento e reserva (no pé calçado). Mas a verdade é eu teu tenho as duas coisas. Talvez o pé direito calçado e o esquerdo descalço. E assim vou apanhando constipações.

| O QUE TE FAZ TREMER DOS PÉS À CABEÇA? |

A ignorância culposa. Há quem não saiba nem queira saber. As redes sociais estão cheias disso. Uma vez discuti com alguém que me queria convencer de que um milímetro era igual a um centímetro. Parece-me incrível vivermos na era da informação e andarmos ativamente desinformados.

| O QUE TE FAZ SALTAR A PES JUNTOS? |

A escrita. Ando a saltar a pés juntos pela escrita desde os nove anos. Quando for velho continuarei a saltar, com a ajuda de uma bengala. Sempre a pensar na escrita. E espero não me partir todo.

| QUAL FOI O CHÃO MAIS ESPECIAL QUE JÁ PISASTE? |

O chão mais especial é sempre aquele que ainda não se pisou. Identifico-me muito com a canção «Inquietação» do José Mário Branco. «Há sempre qualquer coisa que está pra acontecer, qualquer coisa que eu devia perceber. Porquê, não sei»… Há sempre um chão que ainda não se pisou… Mas chegar a Faro depois de 738,5 quilómetros a pé foi um belo chão. Aí senti que já não havia nada pra acontecer.

| ONDE SONHAS METER O PÉ?|

Na Amazónia, na Antártida, no Saara, na mente de novas personagens, no âmago de uma nova história.

| QUAL FOI O TEU MAIOR PASSO? |

Um dos mais significativos foi sem dúvida concorrer ao Prémio Leya. Houve outros passos maiores mas são da minha intimidade.

| QUE SONHOS TE TIRAM OS PÉS DO CHÃO ? |

Acho que devemos tirar o pé do chão pela felicidade. Dos outros e da nossa.

| QUAL É A TUA PEGADA? |

Se um livro ficar como a minha pegada não me importo. Mas acho muito mais importante deixar marcas na vida de quem me rodeia. Tento fazê-lo.

| PARA ONDE É QUE CAMINHAS? |

Para a frente.

| O QUE LEVAS NA MALA? |

O desejo de regressar.

| O QUE TRAZES DE REGRESSO? |

O desejo de partir.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *